O baterista, Pedro, pedia: "Malta, vejam só mais os tempos". E eis que chegava Mário Ferreira, de mochila às costas, a colocar os auriculares nos ouvidos e a testar acordeão e teclados para recuperar o tempo perdido. Não foi preciso muito para o vermos como protagonista, de pé e a cantar "p'rá frente é que é Lisboa" (da canção com o mesmo nome, incluída no disco anterior).
Momentaneamente com a guitarra à tiracolo, silenciada, Tiago Nogueira ia acompanhando o acordeão de Mário com palmas. A banda parecia já entrosada e embalada, com todos a tocarem e a mostrarem que esta pop é feita de uma massa pujante de vários sons que dialogam entre si. Tiago, porém, ainda estava reticente com o som da guitarra: "O som ainda não está bem para mim", queixava-se. E mais tarde seriam de Mário Ferreira as queixas: "Para mim a guitarra do Ricardo está muito alta".
O soundcheck estava a ser tão aproveitado para troca de ideias que, mais ao centro, Ricardo Liz Almeida ia exemplificando ao outro vocalista e guitarrista, Tiago Nogueira, "uma coisa nova, vê lá se gostas". E das colunas, ouvíamos logo a seguir um anúncio que parecia uma piada momentânea, apenas feita no decurso do soundcheck, mas que perceberíamos mais tarde estar a ser preparada para o concerto: o aviso habitual de silenciamento dos telemóveis e de proibição de captação de sons era desta vez substituído por uma mensagem em que se davam instruções aos espectadores que sabiam "o nome do arquiteto responsável pela Torre do Tombo" ou que calçavam "sapatilhas amarelas com atacadores roxos".
A descontração era ainda a nota dominante — e seria sempre ao longo do resto da tarde, ao jantar e nos breves minutos que antecederiam a entrada em palco. Não significa que os vários momentos dos concertos não sejam preparados ao detalhe, "coreografados" quase cena a cena, significa só que apesar do sucesso e da popularidade, estes seis rapazes não se levam demasiado a sério.
Não há, claro, boa disposição sem exceções e pequenas desavenças momentâneas que não chegam a discussão são inevitáveis. Aconteceu por exemplo quando Mário Ferreira deu uma sugestão "que podem achar completamente louca", que era "fazer o som" — testar o som — desde início. Não teve sucesso, como se percebeu pela resposta: "Nós 'tamos a ver a entrada disto, ó Mário. O que é que isso tem a ver? Temos de ver os timings". E há sempre uma altura em que é preciso, como numa equipa desportiva, reunir tropas e apelar ao foco, ao profissionalismo: "Malta, vamos lá fazer isto concentrados, em bloco".
Source: observador.pt
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