пятница, 24 июля 2020 г.

Futebol para esconder o genocídio

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Giovanni Frizzo (Professor da UFPel e militante do PCB Pelotas)

Antes de mais nada: sim, é genocídio! Quando o Estado deliberadamente é responsável pelo extermínio de milhares de pessoas, isso se chama genocídio. O governo brasileiro e a burguesia são responsáveis principais pelas mais de 75mil mortes por Covid-19 no país. Enquanto os governos fazem de tudo para salvar a riqueza dos grandes ricos, também fazem de tudo para que o povo trabalhador sofra com as consequências da pandemia.

Mas, o que o futebol tem a ver com isso?
No capitalismo, o futebol é uma mercadoria de um grande negócio. O que importa, em primeiro lugar, é a gigantesca lucratividade de empresas e empresários. Os governos subordinados à estes, aproveitam o caráter populista e de grande consumo que a mercadoria futebol tem para propagandear seus projetos genocidas de poder.

A história é atravessada por diversos momentos em que, nos piores contextos, o futebol serviu para tentar esconder a miséria e os crimes cometidos pelos governos autoritários. E com parceiros internacionais muito influentes: as entidades do futebol. A FIFA, por exemplo, sempre esteve ao lado dos governos ditatoriais da América Latina para promover seus campeonatos e contribuir para a tentativa de esquecimento da população sobre os crimes que foram praticados durante os jogos.

A Copa de 1978 na Argentina foi realizada enquanto a mais sanguinária ditadura militar da América Latina estava em curso. Inclusive, a final da Copa foi realizada a 1km de distância da Escola Superior de Mecânica da Armada, local onde mais de 5mil pessoas foram torturadas, estupradas e assassinadas. Os gritos de gol buscavam abafar os gritos de dor e sofrimento destas milhares de pessoas.

A ditadura empresarial militar do Brasil, também se utilizou da Copa de 1970 para propagandear o autoritarismo e disseminar a ideia de que estava tudo bem. A recente Copa da África do Sul, em 2010, também foi realizada sob a retomada do Apartheid, erguendo muros em comunidades miseráveis para que não pudessem lutar por suas vidas. A FIFA e as demais entidades do futebol, foram e são coniventes com isso.

Neste momento, em que a pandemia toma proporções gigantescas no país e que milhares de famílias são acometidas pelas consequências irresponsáveis dos governos, a CBF e as federações estaduais querem promover mais um espetáculo da morte ao retomarem os campeonatos estaduais e o brasileirão.

Os argumentos são totalmente infundados: o primeiro é de que o futebol é uma atividade econômica que precisa retomar as atividades para não aumentar a miséria e o desemprego. Como bem sabemos, o que se está propondo é a retomada dos campeonatos dos milionários clubes de futebol do país, que detém recursos para ficar muito tempo fechados sem que isso devesse prejudicar os trabalhadores e trabalhadoras vinculados. O único setor envolvido com o futebol que pode ter algum prejuízo momentâneo são os patrocinadores e empresários, porém estes também tem recursos suficientes para se manter por muito tempo, mesmo sem jogos. Acontece que a mesquinhez que toma conta da sociabilidade do capital faz com estes grandes ricos queiram lucrar acima de qualquer coisa, acima de qualquer pessoa.

Outro argumento é de que o futebol ameniza o sofrimento da pandemia. Ora, como assim? Ao invés de levarmos a sério e de forma responsável o combate à Covid-19, vamos nos distrair disso e ficarmos postados em frente à TV olhando futebol e os intermináveis programas futebolísticos que discutem de tudo, menos algo importante? Não é razoável pensar em ações de distração enquanto a dor e o sofrimento de tanta gente está presente, cada vez mais próximo de todo mundo.

Tenho a certeza de que o futebol não ameniza a dor de ninguém e que estes tipos de iniciativas só contribuem para [tentar] esconder o genocídio em curso. Não tenho dúvida de que ações firmes de garantia do isolamento social, em que as vidas estejam acima dos lucros, seriam muito mais efetivas para o combate à pandemia. Porém, não é o que vemos. Temos um governo que pouco se importa com o povo brasileiro, está abraçado apenas com os grandes ricos e o imperialismo. O que Trump manda, Bolsonaro faz.

Se os governos realmente querem contribuir com o combate à Covid-19, então aumentem os investimentos em saúde pública, parem de jogar dinheiro público no bolso de empresários, ampliem o auxílio emergencial e os programas sociais, parem de privatizar e entregar para multinacionais o patrimônio nacional brasileiro, estabeleçam programas de apoio à produção da agricultura familiar e não benesses para latifundiários, parem de desmatar a Amazônia e assassinar indígenas com tiros, miséria ou Covid-19, parem de assassinar pobres e negros nas periferias, parem de desalojar pessoas quando a ordem é ficar em casa e compreendam que a saúde mental do povo trabalhador está arrebentada por tudo que vocês estão fazendo contra a gente.

Não, o futebol não vai amenizar isso. O futebol não vai melhorar a vida de quem trabalha. O futebol não é mais importante do que a vida de ninguém. Mesmo que meu time vença a próxima partida, não tenho nenhum motivo para comemorar.

Mais uma vez, os gritos de gol querem abafar os gritos de dor e sofrimento de milhares de pessoas.
#PoderParaOpovo

Source: pcb.org.br

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